Esporte

Grupo LGBTQIA+ vai à Fifa para questionar a omissão do uso do número 24 na Seleção

Após mover uma ação judicial, o Grupo Arco Íris de Cidadania LGBT entrou esta semana com uma representação contra a CBF no Comitê de Ética da Fifa para questionar a omissão do número 24 entre os jogadores da Seleção na Copa América. A associação sem fins lucrativos, que existe há 25 anos, questiona as razões pelas quais a Seleção não utiliza o numeral na camisa em competições oficiais.

Na representação, o Grupo Arco Íris de Cidadania LGBT acredita que houve uma possível violação das normas de Direitos Humanos e de não-discriminação com a escolha da seleção brasileira em não utilizar a numeração no torneio. A equipe comandada por Tite é a única na Copa América sem jogador com 24 nas costas.

O documento narra que o preconceito faz parte do futebol brasileiro e pede a abertura de investigação por parte da Fifa contra a CBF.

“Em razão da possibilidade de inscrição de até 28 jogadores que é possível observar a situação aqui abordada, qual seja a não utilização do número 24 pela seleção brasileira, visto a inscrição de 24 jogadores para a competição, em que a numeração é ordenada de 1 a 23, pula o 24, e continua no número 25” diz um trecho do documento, que acrescenta:

“A seleção brasileira pula o número 24 em sua escalação, passando do número 23 (Ederson) para o número 25 (Douglas Luiz)”.

Trecho da ação recorta jogadores de outras seleções com o número 24 — Foto: Reprodução

Trecho da ação recorta jogadores de outras seleções com o número 24 — Foto: Reprodução

Na própria representação, o grupo expõe a resposta da CBF, que afirma que a não utilização do número 24 se deu “em razão de sua posição (meio-campo) e por “mera liberdade”.

Confira a resposta da CBF íntegra:

O Regulamento inicial da Conmebol Copa América 2021 (“Competição”) determinava que apenas 23 jogadores poderiam ser inscritos (doc. 3). Essa quantidade de atletas é a tradicionalmente observada em competições internacionais da Conmebol e da FIFA. A numeração utilizada pelos atletas tem relação com questões desportivas apenas. No momento inicial, a organização da competição estabeleceu a utilização dos números 1 a 23 de forma sequencial, o que foi feito pela seleção brasileira ao inscrever 23 atletas. No entanto, posteriormente, o Regulamento da Competição foi alterado (doc. 4) e foram concedidas 5 (cinco) vagas adicionais, em razão da possibilidade de troca de jogadores por conta de eventual contaminação por Covid-19. Apesar de tal faculdade, que foi utilizada por outras seleções para convocar mais 5 (cinco) atletas, como a CBF vem cumprindo rigorosamente os protocolos sanitários e não apresentou casos de contaminação, a Comissão Técnica sentiu-se confortável em convocar apenas mais um jogador, além dos 23 (vinte e três) inicialmente inscritos, e, para esse jogador, em razão de sua posição (meio campo) e por mera liberalidade, optou-se pelo número 25. Como poderia ter sido 24, 26, 27 ou 28, a depender da posição desportiva do jogador convocado: em regra, numeração mais baixa para os defensores, mediana para volantes e meio campo, e mais alta para os atacantes”.

Grupo LGBTQIA+ questiona a CBF na Justiça

No fim do mês de julho, mês em que acontece o orgulho LGBTQIA+, o Grupo Arco Íris de Cidadania LGBT moveu uma ação judicial questionando as razões pelas quais a CBF não utiliza o número 24 na camisa em competições oficiais.

A “ação de justificação com pedido de explicações” foi distribuída na 10ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, o grupo pediu uma série de respostas para a CBF, como:

  • A não inclusão do número 24 no uniforme oficial nas competições constitui uma política deliberada da interpelada?
  • Em caso negativo, qual o motivo da não inclusão do número 24 no uniforme oficial da interpelada?
  • Qual o departamento dentro da interpelada, que é responsável pela deliberação dos números no uniforme oficial da seleção?
  • Quais as pessoas e funcionários da interpelada, que integram este departamento que delibera sobre a definição de números no uniforme oficial?
  • Existe alguma orientação da FIFA ou da CONMEBOL sobre o registro de jogadores com o número 24 na camisa?

A ação lembra que a CBF “tem papel preponderante neste debate.” Cita também que recentemente o Superior Tribunal de Justiça Desportiva passou a punir clubes com cantos homofóbicos de torcidas nos estádios.

“É dela a responsabilidade de mudar esta cultura dentro do futebol. Quando a CBF se exime de participar, a torcida entende que é permitido, que é aceitável, e o posicionamento faz com que, aos poucos, esta cultura mude.”

O texto do Grupo Arco-Íris, que lembra reportagem do Esporte Espetacular – veja o vídeo no início da reportagem – com pesquisa em diversos clubes brasileiros que também não utilizam o número, cita que o 24 é constantemente, e historicamente, relacionado com o homem gay por conta do jogo do bicho, que associa este número ao veado, animal, que por sua vez, é utilizado como forma de ofensa para a comunidade LGBTI+.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“Sendo assim, o fato da numeração da seleção brasileira pular o número 24, considerando a conotação histórico cultural que envolta esse número de associação aos gays, deve ser entendido como uma clara ofensa a comunidade LGBTI+ e como uma atitude homofóbica.”